segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Fix(able)?


Expiar, v,tr. (do latim expiare). Reparar, redimir (crime,pecado ou falta) por meio de penitência ou castigo. Sofrer, moral ou fisicamente, as consequências próprias ou alheias. Fazer que seja perdoado.

«Ao longo destes cinquenta e nove anos, o problema tem sido este: como é que uma escritora pode fazer a sua expiação se, com o poder absoluto de decidir o final, ela é em certa medida Deus? Não há ninguém, nenhuma entidade, nenhum ser superior a quem ela possa apelar, com quem possa reconciliar-se ou que possa perdoá-la. Não há nada para além dela. Foi ela que marcou os limites e os termos, com a sua imaginação. Não há expiação para Deus, nem para os escritores, mesmo que sejam ateus. É uma tarefa impossível, e a questão é precisamente essa. O que conta é a tentativa.»
Tradução: Maria do Carmo Figueira, Gradiva, 2002.

Como poderia imaginar Briony Tallis que a sua mentira seria maior do que a ficção? Que esta história, por si imaginada, viria a ter um final bem diferente dos por ela inventados para as suas personagens? Como poderia imaginar que a vida não é uma peça escrita à tarde e representada à noite? Como poderia ter entendido ela a grandeza e o milagre do amor? Um amor tão grande e adormecido que explode graças à brisa de um sopro.
Vanessa Redgrave faz de Briony Tallis, a escritora de romances que conta agora a sua última história. Ou a sua primeira, como diz. Ainda presa à rapariguinha de 13 anos que mentiu e teve de expiar da culpa do seu acto, é ela quem nos conta o verdadeiro final da história que sem querer escreveu e cujo argumento ditou o fim de um grande amor. Cecilia e Robbie encontraram-se em segundos e ao fim de anos. Perderam-se em segundos e ao fim de uma noite. Tragédia, destino, culpa, esperança, desalento. De nada serviu a expiação de Briony. Apenas um momento, uma encruzilhada e a vida. Acreditamos que Cecilia e Robbie seriam felizes para sempre, não fosse a mentira de Briony? Não importa. É a fatalidade da impossibilidade e a injustiça humana e divina que nos deixa a garganta seca e os olhos húmidos. Sofremos com Briony mas talvez até a consigamos perdoar. After all, she was only a child. Was she?
Para quem gosta de emoções fortes... AQUI FICA!

4 comentários:

Joana disse...

"Sofremos com a Briony"??? Nope. (Quem sofreu com a Briony foi mesmo o Robbie e a irmã. LOL) Agora a sério, QUASE se entende, pré-adolescente apaixonada; QUASE se desculpa, era uma miúda, mas deixou de o ser rápido, rápido e nunca tentou sequer..., tu sabes, um QUASE nestas coisas é um abismo... Ain´t it?

De qualquer dos modos, precisamente por nos espicaçar pela infinidade de questões que coloca, adooorei este filme.

Ah, por falar em adorar, já adicionaste o blog do David? (É muito bom!) Se não, vai aos meus links. ;)

Bom Carnaval!

Jinhos.

100 remos disse...

JJ: Tens razão. O "quase" pode transformar-se num eterno abismo. Curioso que a cena da fonte ditou o começo e o fim da felicidade de Robbie e Cecilia. Conheço o blog do David, já deixei lá um comentário sobre o grande concerto em Setúbal. I miss you, my dearest friend. Continuas a escrever GRANDES textos!Bjoca.

Matchbox32 disse...

Já ouvi falar muito neste filme mas aqui para os meus lados, ir ao cinema é quase uma miragem! Bons tempos em que vivia em Faro, ia ao cinema quase todos os dias!

Haddock disse...

pronto, depois disto já nem vale a pena ver o filme!! gosto de finais felizes!!