segunda-feira, setembro 01, 2008

A casa

Os Oradores aclaram a voz. E eu? Que farei antes de escrever este texto? Estalarei os dedos? Fitarei as paredes brancas à minha volta como se de folhas se tratassem? Este texto trata de paredes. Este texto tem vindo a ser construido tijolo a palavra, a cada vez que passo por aquela casa. Lembro-me tão bem dos seus mistérios. Do quintal cheio de flores, do móvel de vidro cheio de porcelanas em miniatura: chávenas, pratos, uma orquestra inteira, um cavalo, um elefante, uma casinha... " Não mexas, podes partir alguma coisa!", dizia a minha mãe. Eu ficava quieta a brincar com todas aquelas coisas na minha imaginação. Cheia de vontade de pegar no Maestro e conduzir a orquestra! Lembro-me dos lanches, da forma metódica como a minha avó organizava a mesa, onde a manteiga sabia sempre tão melhor do que a lá de casa, porque era ali, na casa mágica.
No dia em que me fui despedir da minha avó, as porcelanas em miniatura foram empacotadas sem qualquer espécie de cuidado. "Depois logo se vê o que se faz com isto". E a casa foi ficando despida de móveis e de magia.
Quando passo por lá agora, ouvem-se martelos, berbequins e outros sons. Já não há quintal, nem flores. A casa foi vendida, a minha avó foi para Lisboa. As porcelanas não sei onde estão. Devem estar algures, misturadas à toa numa caixa de papelão. Tomara tivesse agarrado o maestro e fugido com ele. Vou à minha varanda e esqueço o olhar num vaso de campainhas que outrora conheceram um quintal cheio de luz. E acredito que me sorriem de volta porque a magia, por vezes, permanece.

5 comentários:

Joana disse...

Ai...............sem palavras!

"... porque a magia, por vezes, permanece..." MESMO!!!!


Jinhos.

Ti disse...

"E acredito que me sorriem de volta..." ...eu também :)

100 remos disse...

JJ: Quando voltares, vamos passear e eu mostro-te "aquela casa". Ok?



Ti: Não me admira que acredites...

Ti disse...

Até eu fiquei com vontade de conhecer "aquela casa"... :)

Haddock disse...

acompanho-te nessa sensação...